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COMPORTAMENTO REPRODUTIVO EM SUÍNOS

  Introdução         Com o aumento do uso de sistemas de confinamento e a intensificação das práticas de produção, voltadas para otimizar o trabalho, reduzir a perda de energia dos animais e melhorar a produtividade por área, surgem desafios que afetam o comportamento e a qualidade de vida dos animais. Problemas relacionados ao bem-estar dos suínos podem ter impactos negativos em diversas áreas, incluindo o desempenho sexual e reprodutivo (HÖTZEL et al., 2010).       O comportamento sexual de suínos, tanto de fêmeas quanto de machos, é influenciado por uma combinação de fatores, como o sistema endócrino, a aprendizagem ao longo da vida e as condições ambientais às quais estão submetidos.       As atividades reprodutivas não são constantes, demandando processos de maturação e estímulos específicos para desencadear respostas reprodutivas eficientes. Esse comportamento é crucial para que a cópula ocorra no momento certo, asse...

COMPORTAMENTO REPRODUTIVO EM SUÍNOS

Suínos

 Introdução 

      Com o aumento do uso de sistemas de confinamento e a intensificação das práticas de produção, voltadas para otimizar o trabalho, reduzir a perda de energia dos animais e melhorar a produtividade por área, surgem desafios que afetam o comportamento e a qualidade de vida dos animais. Problemas relacionados ao bem-estar dos suínos podem ter impactos negativos em diversas áreas, incluindo o desempenho sexual e reprodutivo (HÖTZEL et al., 2010). 
    O comportamento sexual de suínos, tanto de fêmeas quanto de machos, é influenciado por uma combinação de fatores, como o sistema endócrino, a aprendizagem ao longo da vida e as condições ambientais às quais estão submetidos. 
    As atividades reprodutivas não são constantes, demandando processos de maturação e estímulos específicos para desencadear respostas reprodutivas eficientes. Esse comportamento é crucial para que a cópula ocorra no momento certo, assegurando uma fertilização bem-sucedida e, consequentemente, a gestação. 
    Compreender as características do comportamento reprodutivo dos suínos é fundamental para determinar o momento ideal de acasalamento das fêmeas, avaliar a capacidade reprodutiva dos machos e identificar possíveis alterações que afetem o comportamento sexual normal (SILVA, 2021). 

Características reprodutivas das fêmeas 

    De acordo com Silva (2021) o comportamento sexual das fêmeas possui três intuitos, sendo eles: atrair o macho através de sinais e de busca ativa dele, esse comportamento é conhecido por atração; estimular o macho para realizar cópula, ou seja, proceptividade, no qual as fêmeas se exibem para o macho; facilitar a cópula, através da receptividade, permanecendo imóvel para isso. Esses comportamentos ocorrem quando elas atingem a puberdade. 
    A puberdade é o estágio no qual o animal começa a demonstrar sinais de receptividade sexual. No caso das fêmeas suínas, esse momento é marcado pelo primeiro cio fértil. Diversos fatores podem impactar o desenvolvimento da maturidade sexual, como a alimentação, condições de estresse térmico e hídrico, alto índice de condição corporal, além de variações genéticas entre raças e indivíduos de uma mesma linha de seleção, onde, de maneira geral, o intervalo médio para isso ocorrer pode variar entre 4 e 8 meses (MELLAGI et al., 2009). 
    Os suínos domésticos normalmente não possuem uma estação reprodutiva específica, pois os ciclos estrais das fêmeas ocorrem de maneira regular durante o ano todo, com intervalos médios de 21 dias, podendo variar entre 18 e 24 dias. Assim, essa espécie é classificada como poliéstrica não estacional (NETO et al., 2017). O ciclo estral é dividido em quatro fases, sendo elas: proestro, que dura de 3 a 4 dias, durante essa fase há o desenvolvimento dos folículos ovarianos; estro, podendo durar de 2 a 3 dias, é o período em que a porca aceita o macho para a cópula. A ovulação ocorre cerca de 36 a 42 horas após o início do estro; metaestro, sendo a transição entre o estro e o diestro que dura aproximadamente 14 a 16 dias e é o período de atividade lútea. Essas fases são decorrentes do fluxo de GnRH que estimula a glândula hipófise a liberar os hormônios FSH (folículo-estimulante) e LH (luteinizante), principais gonadotrofinas. Então, é possível identificar quando as fêmeas estão em cio (estro) através de mudanças anatômicas externas e no seu comportamento como inquietação, apetite reduzido, membros posteriores afastados, nervosismo e excitação, lombo arqueado e cauda levantada, micção frequente e busca ativa pelo macho. 
    Uma característica marcante do cio é o reflexo de tolerância, onde a fêmea permanece imóvel ao ser pressionada (esse comportamento dura em torno de um 1 dia normalmente), o que indica sua receptividade sexual. Na prática de reprodução suína, isso é geralmente observado quando uma pessoa exerce pressão na região lombar da porca ou monta sobre o animal. O inchaço da vulva e a secreção vaginal clara são sinais visuais que auxiliam na detecção do estro (SANTOS et al., 2012). O comportamento das porcas em relação aos seus filhotes é instintivamente voltado para a proteção, alimentação e cuidado da ninhada. Elas emitem grunhidos suaves para chamar os filhotes, incentivando a amamentação e garantindo que todos tenham acesso às tetas. Além disso, a lambedura dos leitões logo após o nascimento é comum, pois ajuda a limpá-los e a estimular a respiração e a circulação sanguínea. Durante a amamentação, as porcas adotam uma posição lateral, permitindo que os leitões mamem com facilidade. Elas ajustam sua postura conforme necessário para garantir que até os leitões mais fracos tenham acesso ao leite. O comportamento da porca em relação à duração da amamentação também muda conforme os filhotes crescem, com mamadas mais frequentes no início e uma redução gradual à medida que os leitões começam a comer alimentos sólidos (FRASER, 1980). 
    Porcas são altamente protetoras de seus filhotes e podem se tornar agressivas se perceberem ameaças, especialmente logo após o parto. Esse comportamento defensivo pode ser mais evidente em sistemas de criação solta, onde elas têm maior liberdade de movimento. Em gaiolas de maternidade, no entanto, as porcas têm seu comportamento limitado, já que esses ambientes são desenhados para reduzir o risco de esmagamento dos leitões. Embora isso limite sua movimentação e interação física, ajuda a proteger os filhotes de acidentes (GRANDIN, 1997). Em algumas situações, as porcas podem apresentar agressividade pós-parto, especialmente nas primeiras horas, quando estão mais estressadas e focadas em proteger a ninhada. Com o tempo, esse comportamento geralmente diminui à medida que elas e os leitões se ajustam à rotina. Durante o período de desmame, a porca começa a afastar os filhotes, reduzindo a frequência das mamadas e incentivando-os a consumir alimentos sólidos. Nessa fase, ela pode mostrar impaciência, recusando-se a deitar para amamentar ou afastando os leitões. Em resumo, o comportamento das porcas é fortemente guiado pelo instinto materno, sendo influenciado pelas condições de ambiente, manejo e saúde. As porcas buscam constantemente garantir a sobrevivência e o bem-estar de seus leitões, ajustando seu comportamento conforme as necessidades da ninhada evoluem (WEARY; FRASER, 1995).

Comportamento reprodutivo de machos 

    Os machos entram na puberdade entre 5 e 8 meses, sendo ideal iniciar o uso reprodutivo por volta dos oito meses. De acordo com Neto et al. (2017) a capacidade de copular e produzir ejaculados férteis é essencial na escolha de um macho para reprodução. Quanto ao volume de ejaculado e ao número total de espermatozoides, há um aumento gradual entre 7 e 12 meses, mas os níveis máximos só são atingidos por volta dos três anos. 
    Diversos fatores externos podem influenciar o comportamento reprodutivo dos suínos, como o ambiente, a nutrição e o manejo sanitário. Ambiente: A iluminação, a temperatura e a ventilação afetam diretamente o comportamento reprodutivo dos suínos. Condições climáticas adversas, como o excesso de calor, podem comprometer a expressão do cio nas fêmeas e reduzir a libido dos machos. Além disso, o estresse ambiental pode levar à supressão da ovulação e à menor qualidade do sêmen. Nutrição: Uma nutrição adequada é essencial para o sucesso reprodutivo. Machos que recebem uma dieta deficiente podem ter redução na qualidade espermática. A suplementação com nutrientes específicos, como vitaminas e minerais, pode melhorar a performance reprodutiva. 
    Assim como as fêmeas, os machos também possuem três estágios comportamentais. Na primeira fase, os machos buscam ativamente as fêmeas, engajam se em comportamentos de cortejo, aproximam-se delas e experimentam estímulos sexuais (fase pré-copulatória). Ao identificar uma fêmea no cio, iniciam a monta, caracterizada por movimentos pélvicos, penetração e ejaculação (fase copulatória). Após o acasalamento, os machos entram em um período de repouso e perda de interesse pela fêmea no cio, conhecido como fase pós-copuladora ou refratária (SILVA, 2021). 
    Durante a monta, o macho sobe sobre a fêmea que adota a postura de acasalamento, permanecendo imóvel e permitindo a copulação. A frequência e a duração da monta variam de acordo com o grau de receptividade da fêmea. Durante o acasalamento, o macho faz movimentos ascendentes com o tronco, alcançando uma posição quase vertical, apoiando as patas dianteiras sobre o dorso da fêmea. 
    Uma característica fundamental em animais é a emissão de feromônios, que desempenham papel crucial em várias interações comportamentais. Esses compostos químicos podem ser liberados por secreções dos órgãos genitais, glândulas cutâneas, ou estar presentes na urina, fezes e saliva. Um exemplo marcante é o esteroide liberado pelo cachaço, que, por meio da espuma salivar, atinge a fêmea, desencadeando o reflexo de imobilização. Durante a corte do cachaço, esse esteroide é transferido pela saliva, provocando na fêmea uma postura rígida característica. Quando a porca está no cio, a aplicação desse esteroide diretamente em seu focinho, por exemplo, em forma de aerossol, estimula uma resposta postural imediata. A corte pode durar em torno de 10 minutos, mas isso vária de acordo com a receptividade da fêmea e a capacidade dela em suportar o macho (BROOM; FRASER, 2010).

Conclusão
 
    Em suma, o sucesso da reprodução suína está estreitamente relacionado ao comportamento natural das porcas e às condições proporcionadas pelos criadores, destacando a relevância de um manejo adequado que atenda às necessidades comportamentais dos animais. 

Referências 

BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. 

FRASER, D. A review of the behavioural mechanisms of piglet survival. Applied Animal Ethology, 6(3), 203-215, 1980. 

GRANDIN, T. Assessment of stress during handling and transport. Journal of Animal Science, 75(1), 249-257, 1997. 

HÖTZEL, M. J.; NOGUEIRA, S. S. C.; FILH, L. C. P. M. Bem-estar de animais de produção: das necessidades animais às possibilidades humanas. Revista de Etologia, 2010, Vol.9, N°2, 1-10. 

MELLAGI, A. P. G.; QUIRINO, M.; OLIVEIRA, G. S.; GAGGINI, T. S.; PASCHOAL, A. F. L.; LUCCA, M. S.; ULGUIM, R. R.; BORTOLOZZO, F. P. Atualizações na avaliação andrológica em suínos. Rev. Bras. Reprod. Anim., v.43, n.2, p.47-53, abr./jun. 2019. 

NETO, R. F.; SOUZA, J. P. B.; COSTA, L. F. X.; MARQUES, D. P.; OLIVEIRA, I. L. S.; SILVA, I. C. A.; GODOY, M. M.; PESSOA, F. O. A. Aspectos do manejo reprodutivo de suínos. Colloquium Agrariae, vol. 13, n. Especial 2, Jan–Jun, 2017, p. 41-50. ISSN: 1809-8215. DOI: 10.5747/ca.2017.v13.nesp2.000207 

SANTOS, S. F.; OLIVEIRA, R. R.; BUENO, J. P. R.; SOUZA, L.; SANTOS, A. M. Ciclos reprodutivos e coberturas em suínos - machos e fêmeas. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 5, Ed. 192, Art. 1290, 2012. 

SILVA, E. I. C. Comportamento Sexual dos Animais Domésticos. 2021. Embrapa Semiárida e IPA. Disponível em <https://www.researchgate.net/publication/349712403_Comportamento_Sexual_dos_A nimais_Domesticos>. Acesso em: 19 de setembro de 2024. 

WEARY, D. M., & Fraser, D. Calling by domestic piglets: reliable signals of need?. Animal Behaviour, 50(4), 1047-1055, 1995.

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